quinta-feira, 9 de junho de 2011

Entrevista - Paulo Ricardo

Organizar e participar: os ingredientes fundamentais para se ser um modelista

Conheci o Paulo Ricardo há cerca de um ano. Na verdade, todas as pessoas na loja o conhecem. É-lhe característico o entusiasmo pelo modelismo e coleccionismo. A boa disposição está sempre presente e consegue transmiti-lo às pessoas. O Paulo Ricardo é desenhador de electrónica, faz placas de circuito impresso para a indústria, é coleccionador de miniaturas automóveis na escala 1/43 e de cartas Magic, é master do Magic e tem ainda tempo para ser rádio modelista. Actualmente também organiza corridas de RC (radiocontrol) através do Clube de Radiomodelismo CRO e da Federação Portuguesa de Rádio Modelismo.
Na passada quinta feira, dia 2 de Junho, o Paulo concedeu-me uma entrevista depois de ter organizado um Draft de cartas Magic. Confessa que tem 44 anos e que está no modelismo há muito tempo: desde os 7. É interessante saber que, como o último entrevistado Mateus Abecassis, foi o pai do Paulo que o impulsionou a entrar no modelismo quando lhe ofereceu a primeira miniatura automóvel na escala 1/43. O modelista conta-nos a sua história com orgulho.

PR – Eu gostei muito desse carro: ainda hoje o tenho. Foi o que me levou a ser coleccionador de miniaturas; a partir daí comecei a ter muitos: hoje, tenho quase 4000 carros. Há uma sala na casa dos meus pais só para os carros.

PG – Para além do miniaturismo, o que faz mais dentro do modelismo?
PR – Comecei há cerca de 22 anos no rádio controle. Era cliente de uma loja de modelismo e quem lá estava incentivou-me a adquirir um carro eléctrico telecomandado. Eu gostei, fui ver como é que eram as corridas e, como sempre gostei de organizar eventos, comecei a organizá-las. Corri e organizei durante 15 anos. Comecei a organizar através da Junta de Freguesia de São Domingos de Rana: eram corridas sem fins lucrativos e gratuitas, mas também não dávamos prémios. Quando apareceu a Federação Portuguesa de Rádio Modelismo, entrámos e criámos um núcleo de carros elétricos.

PG – Ajudou a criar esse núcleo?
PR – Sim. Fui delegado desse núcleo durante doze anos e representei Portugal nas reuniões e na regulamentação da classe. Organizei alguns eventos internacionais aqui em Portugal: campeonatos da Europa e algumas finais europeias e mundiais de monomark, como a tamyia e kyosho.

PG – O que é que o entusiasma no rádio controle?
PR – Primeiro: é uma actividade ao ar livre. Os jovens de hoje perdem muito tempo em casa, nos computadores, e esqueceram-se do que é que é divertirem-se no exterior. Um rádio controle traz de volta a procura dos espaços abertos e até um bom relacionamento entre o pai e o filho. O pai, que normalmente já não tem tanta habilidade como o filho, entusiasma-se e é o mecânico do carro. O pai fica realizado com aquilo que o filho vai conseguindo alcançar: as corridas, os lugares, as voltas mais rápidas.

PG – Actualmente, há mais miúdos a entrar nas corridas?
PR – Não. Acho que isso se perdeu um bocadinho. Começou a haver muitas escalas e muitas classes: as pessoas começaram a espalhar-se. Isto provocou a existência de classes com poucas pessoas e os clubes perdiam rentabilidade ao organizá-las. Então, mata-se as classes mais pequenas e as pessoas afastam-se. Hoje em dia existem menos classes, mas acho que a Federação não ajuda a criar a possibilidade de termos gente nova a participar porque as coisas são caras e rigorosas. Às vezes as pessoas querem brincar e não competir, mas a Federação não tem isso em conta.

PG – E fora das corridas oficiais?
PR – Eu acho que é mais fácil as pessoas comprarem aos filhos uma bicicleta ou uma bola e virem brincar para a rua, do que um carro telecomandado. É uma questão de mentalidade. As mães não vêm os carros telecomandados com bons olhos porque a tradição em Portugal é os carros em combustão e esses fazem barulho, deitam fumo, libertam o cheiro a gasolina… As mães nãos querem esses carros em casa porque sujam. O carro eléctrico não teve o impacto que nós esperávamos há vinte anos atrás. Teve em países como EUA, Inglaterra, França, mas não na Espanha e em Portugal que preferiu os carros a combustão. Por isso é mais fácil o pai oferecer uma bicicleta ao filho do que um carro telecomandado.

PG – Lá fora, isso é diferente?
PR – Está mais desenvolvido e as mães acompanham mais essas actividades como na Inglaterra. Quando há uma corrida vai o pai, a mãe, os irmãos, os tios, avós… Fazem um piquenique e toda a família gosta de participar nestas actividades.

PG – É uma actividade muito cara para um miúdo que gostasse de começar?
PR – Todas as actividades são caras. Comprar uma consola de jogos e os jogos é caro; comprar um carro telecomandado e depois mantê-lo também o é. Não vou dizer que é um desporto barato porque não é, mas também não é dos mais caros. Quem compra uma bicicleta pode comprar no hipermercado por €50, como pode comprar numa loja de bicicletas por €1500 ou mais.

PG – Então tudo depende do modelo que se queira adquirir?
PR – Exactamente. Uma criança tanto se pode divertir com um carro de €100, como com um carro de €400.

PG – Mas não acha que quando os pais oferecem estes modelos aos filhos, tencionam também brincar?
PR – Sim. É um fetiche que os pais têm em ter uma coisa que não tiveram em criança, até porque não havia na altura. É uma maneira de convencer a mãe: dizer que era giro oferecer um carro ao filho.

PG – O que é melhor: carro eléctrico ou de combustão?
PR – Isso é a minha guerra. Quando me lancei nos eléctricos, há muitos anos atrás, eu era o seu grande defensor. Isto porque os gastos iniciais são iguais e traz grandes vantagens, como levar para casa e experimentá-lo. O carro a combustão não dá muito jeito quando não se tem garagem. Um carro destes no quarto, em cima do guarda-fatos, não é muito aconselhável porque deita cheiro e liberta gasolina e óleo. O carro eléctrico é mais limpo. Hoje em dia, os eléctricos andam tanto como os de combustão e as baterias já não duram 5 minutos como há uns anos atrás. Continuo a ser um defensor do eléctrico.

PG – A quem é que vai passar o legado do rádio modelismo?
PR – A minha filha também começou no modelismo aos 7 anos de idade, com um carro telecomandado. Venceu na altura um campeonato que era apoiado pelo Correio da Manhã e venceu a classe dos iniciados. Mas como era rapariga, rapidamente perdeu o entusiasmo e passou para outras actividades. Como eu só tenho uma filha, o legado do modelismo vai ficar apenas comigo (risos).

PG – O rádio modelismo é um desporto?
PR – A Federação tem campeonatos nacionais, europeus e mundiais, por isso é um desporto. Não nos podemos esquecer que temos um português que é campeão do mundo em RC. Para mim é um desporto.

O Paulo Ricardo deixa assim a sua opinião acerca do rádio modelismo automóvel em Portugal e o papel da Federação Portuguesa de Rádio Modelismo no desenvolvimento deste desporto. A entrevista termina, mas fica a ideia:
PR - Antigamente, quando os carros telecomandados vinham desmontados, o RC tinha uma vertente pedagógica porque era o pai e o filho que montavam o carro em casa. O filho aprendia a parte de mecânica, entre outras coisas. Hoje em dia, os carros já vêm montados, prontos a correr. Por um lado, os modelos baixaram de preço, mas por outro perdeu-se essa vertente de criar e construir.






Texto e fotografias de Pandora Guimarães

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