quinta-feira, 19 de maio de 2011

O Modelismo e a crise


Estudo efetuado a 20.500 europeus prevê
Portugueses mudam prioridades este Natal

Vive-se numa altura de crise, mas o elevado consumo característico desta época natalícia mantém-se. Saiba algumas das mudanças dos consumidores registadas em empresas, supermercados e lojas.

Orçamento de Estado, greve e crise económica são palavras que ouvimos ultimamente todos os dias, mas não se sabe até que ponto os portugueses estão preparados para mudar os seus hábitos de consumo e enfrentar o Natal.
No dia 9 de Novembro, a Deloitte apresentou um estudo europeu, Xmas Survey 2010, onde revela que os portugueses prevêem gastar 575 euros neste Natal, menos 6% que o ano passado e menos 15% e 5%, respectivamente, que a Grécia e a Irlanda este ano, que também enfrentam dificuldades económicas.
Embora Portugal seja “o país onde o pessimismo em relação à economia aumentou mais, o consumo nesta quadra festiva parece ter uma maior emocionalidade ou uma menor racionalidade económica”, explicou Sérgio Oliveira, parceiro da Deloitte, à Lusa.
Segundo o estudo, a nova atitude dos consumidores está no tipo de produtos a comprar, no preço, número de presentes e nas marcas. António Silva, responsável por um dos supermercados do El Corte Inglés, Supercor da Beloura Shopping, desenvolve todos os anos um conjunto de cabazes de Natal que vão dos 20 aos 600 euros. Esses cabazes, assim como os artigos gourmet, vendem-se mais a cada ano que passa. No entanto, quando vendido a empresas observa-se diminuições. “Posso-lhe dar um exemplo. A Wurth, empresa multinacional de distribuição de produtos e sistemas profissionais de montagem, no Natal de 2008 gastou 8 mil euros em cabazes, em 2009 reduziu esse valor para metade e este ano apenas dispensou 800 euros”, comenta o gerente António Silva.
Quando questionámos que medida iria tomar o supermercado devido à crise, o responsável pelo Supercor esclareceu: “Já tomámos. A política do Supercor nunca foi o preço, mas sim a qualidade. No entanto, devido à crise que enfrentamos, criámos promoções como o “produto estrela” e tentamos cativar não só o cliente de médio, médio alto poder económico, mas sim também o de médio baixo”.
Segundo o gerente, há cerca de um ano que os clientes entram no supermercado com uma lista de compras, reduzindo assim a venda por impulso para cerca de metade. “O nosso melhor ano continua a ser o de 2009, mas mesmo assim, em valores finais, não posso dizer que exista grandes diferenças.”
Segundo o estudo Xmas Survey 2010, os portugueses irão ter como prioridade a utilidade dos presentes, reduzir o montante gasto em cada um e procurar o melhor preço.
Carlos Guimarães, gerente da loja de modelismo Hobbykit no Beloura Shopping afirma que em momentos de crise existem setores do modelismo que aumentam as suas vendas, justificando que quanto mais perigoso ou caro for andar nas ruas, mais as pessoas necessitam dos seus hobbies: “Falo como gerente de várias lojas de modelismo há mais de 35 anos. Já passei algumas crises, como a primeira crise do petróleo e o 25 de Abril. Os kits aumentam sempre o volume de vendas. Nestas alturas de instabilidade e receio, as pessoas voltam-se para as famílias e querem estar em casa a fazer algo de que gostam.”
Nos artigos topos de gama o gerente também afirma que não se notam diferenças nesta altura de crise e justifica: “São artigos comprados por pessoas com elevado poder económico que, com ou sem crise, continuam a comprar este tipo de artigos, como é o caso dos comboios elétricos.” A única coisa que Carlos Guimarães nota diferença é nos artigos muito baratos que normalmente serviam para “fazer número” e “encher a árvore de Natal”, ou até mesmo para “oferecer uma lembrança à vizinha”. “Nestas alturas, esses tipos de artigos não se vendem porque as pessoas deixam de gastar dinheiro com as pessoas que não são tão próximas.”
Apesar de a empresa estar a vender ainda melhor que o ano passado, vai tomar medidas perante a crise, como cortar nas despesas e prolongar o tempo de reservas a clientes. Nas alturas de maior consumo, como é o caso do Natal, muitos pais que não têm tempo para estar com a família compram coisas sem olhar para o preço e assim poder compensar a sua ausência. “Vê-se muito esta ocorrência em emigrantes que regressam com maior poder económico.” Como consumidor, Carlos Guimarães não vai alterar os seus hábitos: “Cortam os que já estavam em crise antes de chegar a crise, ou então porque as suas situações económicas alteram-se drasticamente, como é o caso dos despedimentos.”
Paulo Penaforte, lojista de 34 anos, afirma que prefere fazer as suas prendas e evitar assim grandes gastos em presentes. “Os presentes têm muito mais valor quando dedicamos tempo a fazê-los. São prendas únicas e personalizadas”, comenta. Após afirmar que também não vai alterar os seus hábitos de consumo nesta época, acrescenta: “Vivemos num país em crise, mas com um Natal sem crise”

Observações: Notícia e entrevistas realizadas para o Natal de 2010. 
Texto escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico.
Texto de Pandora Guimarães
Fonte da imagem: Cagle Post, cartoon de Marshall Ramsey

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